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Conheça o emblemático rapper Beleza

Beleza é da Freguesia, Rio de Janeiro. Começou sua carreira fazendo freestyle numa época que não era nada popular, e sim esporádica. Aposto que nem ele sabia o que estava fazendo mas ali estava presente.

Tudo começou quando o próprio viu um anúncio no jornal sobre uma batalha na Lapa, em 2002, assim que o filme “8 Mile” (2001) do Eminem ficou disponível aqui no Brasil, e a matéria foi em cima disso. Um amigo dele o inscreveu na batalha sem ele saber. Estava lá assistindo e o Aori, que também é um baita de um artista épico no rep do Rio de Janeiro, chamou-o para participar. Era uma batalha seletiva para a liga de 2004, e o próprio Beleza ganhou, assim se classificando para a Liga dos MCs, cujo próprio não sabia de fato o que era. Logo, foi para a Liga e ficou em 5º entre os 32 participantes, e a partir dali não parou mais. Nessa mesma época ele começou a gravar umas músicas com um grupo que fazia parte com os amigos da área, o Rapress.

Em 2005 e 2006, os eventos mais importantes que tinham na cena eram: Liga dos MCs, Prêmio Hutúz, Opalão 76 Fresstyle Contest, Desafio Six de MCs, Batalha do Real e Desafio Rio x SP, onde Beleza venceu todos, sendo o único MC a unificar todos os títulos. Começo de 2006 ele saiu do grupo para fazer sua correria solo. Daí surgiram as músicas “Causa e Efeito” e “Todo Mundo Faz“… Mas era tudo feito na base do freestyle, sem essa de parar para escrever. Inclusive, o público era pequeno naquela época mas dava valor ao rep verdadeiro e um bom freestyle. Ele fazia uns covers gringos nos próprios shows, como Wu-Tang Clan e Big L. Era uma época que ninguém fazia shows pelo Brasil como rola agora, a não ser os já consagrados Racionais MCs, Gabriel O Pensador, Marcelo D2 e MV Bill. Naquela época, como o estúdio não era tão mole como é na atualidade, ele fazia seus corres no freestyle, organizava eventos na própria área. Afinal, não tinham muitos produtores ou estúdios acessíveis, e para você ter noção, a divulgação era feita no Orkut, mas era fraca, porque não tinha tantas opções (fora o boca a boca com flyers na rua).

Em 2007 foi nascendo alguns artistas da cena atual, como ConeCrewDiretoria, Oriente e Emicida.

Em 2008, pensando em gravar um disco solo, começou a gravar no estúdio U-Flow, que estava se organizando. Lançaram então uns singles, acabaram formando um grupo e subsequentemente veio o disco ‘O Surto da Lucidez‘ (2010). Fizeram muitos shows e chegaram até a abrir para Black Alien, MV Bill, Kev Brown e outros. Devido a divergências de opiniões, ele saiu do grupo e desses eventos da época ele foi o único que unificou todos os títulos. Se bobear, até hoje , pois esses acabaram e surgiram outros, mas nenhum MC teve essa hegemonia de unir todos os títulos e vencendo os melhores da época , MC Briganti foi vencedor do Opalão de 2007 e fez uma batalha duríssima contra o Emicida que por pouco não levou. Paralelo ao grupo ele gravava uns singles solos e fazia seus próprios shows; organizava uns eventos com um parceiro chamado MC Briganti na época.

Em 2012, foi convidado pelo Gabriel O Pensador para apresentar o “Projeto Rimadores Anônimos” que ele queria tocar para frente. Ele estava para começar a turnê do novo disco depois de sete anos sem lançar e queria sempre uma galera do freestyle com ele no palco. Beleza acabou fazendo a turnê com ele de 2012 a 2014 e viajaram o Brasil todo promovendo batalhas e abrindo espaço para MCs novos. Inclusive, muitos estão aí na cena até hoje tiveram seu espaço garantido. Foram: Gigante e Buneco (Atentado Napalm), Pk (Class A), Helibrown, Gah MC (Canela Fina), erOck e Vidal (Sã Consciência), M2K (Faroeste), Alan (Comando Selva), NAAN e Dante, Bart e Pereira, P.A (Visão Pura), Johtace Razec, FBC e Well e outros.

Gabriel O Pensador (esquerda) e Beleza (direita)

Beleza foi tão privilegiado que se apresentou com o Pensador em Dublin, Montevideo, e em Portugal, onde foi duas vezes e colocaram alguns MCs de lá para rimar também.

Começo de 2013, no meio desse trajeto com o Pensador e tendo saído do grupo, começou a regravar solo com a produção do Reeo Mix. Daí surgiram as músicas lancei Babylon Grow e “Ela é Linda” no beat do Goribeatzz, que fizeram um certo barulho naquele tempo e tocaram bastante em algumas rádios. Subsequente a isso, participou do álbum de estreia do Oriente, na faixa “Ideologia” junto com Filipe Ret e Shadow; participou do single “Embarque Nesse Trem” com o Helio Bentes e Rico Neurótico, com produção do Dubatak; na faixa “Era do Gelo” para o disco do André Ramiro, junto com ele e Dropê (Comando Selva); um single para a U-Flow, com participação do Filipe Ret chamado “A Margem me Chama“… Tudo nesse período entre 2010 e 2013.

Em 2014 saiu da turnê do Pensador e começou a organizar o lançamento de seu álbum com umas músicas antigas e outras que já estava fazendo, e logo saiu no começo de 2015 o então “Visão da Noite“. Nessa época, o lendário Shawlin o convidou para fazer o apoio dele na turnê do ‘Cachorro Magro’ que estava começando, assim substituindo o Funkero que tinha entrado para o Cartel MCs e estava no maior corre. Depois que o disco saiu, ele fez alguns shows e depois foi diminuindo o fluxo, fazendo só participação e apoios. Participou de muitos shows do Oriente e do Dubatak, mas os próprios shows solo foi se desligando; fez umas rodas de rima e tudo mais.
— Tudo que o rep me proporcionou veio da rua e eu tinha que devolver isso a ela em forma de rep, só que a cena mudou bastante, e como não lancei mais nada do meu trampo eu também dei uma parada dos shows e dos corres de rua com meu rep. Quase casei, tive vários corres de família para ajudar a resolver, e fui me dedicando menos aos meus shows e somente as participações e apoios com o Shawlin e os amigos da cena. — afirmou Beleza.

Agora em 2017, Beleza anseia por músicas novas e participações também. Já lançou dois cyphers: um da Grito Filmes e outro da 1Kilo, e em breve devo fazer mais coisas lá com os próprios, que são bem chegados. Inclusive, seu próximo trabalho será um EP pelo selo 1Kilo. E o Grego que hoje é o produtor deles, é um dos fundadores da Reeo Mix e produziu o álbum “Visão da Noite”, além de ser o DJ nos shows, então podemos dizer que eles já têm uma amizade e uma sintonia boa nisso.
— Gravei uma participação na primeira mixtape da 1Kilo e em breve sai mais coisa por lá. Vem coisa boa por aí. Tem coisa boa no forno. — finalizou Beleza.

Agora, umas perguntinhas sucintas.

Qual foi a sensação ao subir no palco a primeira vez?

R: Foi de medo, né, mano?! Eu não sabia que ia subir, e era para batalhar contra o Bacon. Nesse dia eu fui inspiradão com base num som que ele tinha recém-lançado chamado “Paz, justiça e liberdade”. Aí, quando me chamaram e vi, era contra ele, mas deu tudo certo.

Você já tinha se imaginado em algum momento em cima daquele palco onde tudo começou?

R: Eu não tinha imaginado nada antes. Eu nem era MC, embora já fizesse minhas rimas. Trabalhava no shopping, tinha outros planos na vida e o rep atropelou tudo.

Qual foi a sua reação quando soube que o Dudu Blecaute te inscreveu para batalhar?

R: Fiquei surpreso porque o cara chamou “Beleza”, eu não acreditei que era eu. Meu apelido de infância que eu odiava, aí geral que estava comigo me empurrou lá para cima. Nunca que eu escolheria esse nome como MC, mas aí já tinha ido, né?!

Pela época, o público era bem menor. Mas, comparando com a atualidade, você vê uma diferença positiva ou negativa?

R: O público era bem mais marginal – e menor em proporção. Era nego mais cascudo que se identificava com o rep. O gênero abordava uns assuntos mais pesados. E no Rio só tinha um evento de rep, que rolava na Lapa. Papo de trezentas ou quatrocentas pessoas e a casa já ficava lotada. Era só vagabundo vindo do gueto. Mulheres eram muito poucas nos eventos, YouTube não existia, as micaretas bombavam no Rio e a juventude ia em peso naquela merda; mas o rep resistiu, e se hoje cresceu em proporção foi porque os fãs de rep, junto com as redes sociais, fizeram sua própria mídia. Aí teve a febre das bandinhas coloridas e emos. Quando isso passou, a juventude se voltou paro o rep, graças a Deus!

O que você acha da afirmação “Amam os MCs, não o hip-hop”?

R: Acho uma fase imatura do fã de rep. O gênero tem uma história linda de correria, luta, superação, discriminação… Cada MC tem sua história de identificação com o rep, e tem fã que se identifica tanto com um MC a ponto de ficar comparando e procurando defeito nos outros. Acho isso uma coisa bem infantil! Rep não é igual futebol que você torce para um time só e pronto; rep é musica de união, mano, união dos excluídos pelo sistema, pela família que discrimina seu estilo de vida, pela vizinhança que nos rotula de ‘doidão’, pela polícia que te acha suspeito por andar de roupa larga – se bem que hoje tem muita gente de blusinha e calça apertadinha fazendo rep – hahahaha. Eu não gosto! Roupa apertada me incomoda, mas cada um com seu estilo e seus gostos. Rep é liberdade!

Óbvio que o público atual é bem díspar da época que você começou. Mas, você via mais amor ao gênero naquela época? Vê alguma diferença que merece ser enfatizada na atualidade?

R: Na época, mesmo com a falta de informação a galera buscava mais e tinha mais prazer em ouvir o underground. Hoje nego fica muito na mesmice da mídia, só falam do Kendrick Lamar, Drake, Kanye West, etc. Você acha que se esses caras não estivessem na mídia alguém daqui ia buscar e exaltá-los como ‘foda’? Não que os caras não sejam! Eles são brabos, mas não seriam tão curiosos. Há dois anos atrás nego achava o Wiz Khalifa “o cara”; há dez anos era o Lil’ Wayne, e assim sucessivamente. A mídia precisa de gente nova para vender o momento, e o povo abraça como se fosse uma regra o fato de o cara ser “foda” só por estar na mídia. Mas o Nas, Wu-Tang Clan, KRS-One, Jay-Z e mais milhões de artistas underground, como Necro, Ill Bill, Vinnie Paz, R.A the Rugged Man, ainda estão trabalhando; por aqui Racionais MC’s, Black Alien, Gabriel O Pensador também estão de trabalho novo, os caras ainda estão aí. Dos mais atuais eu gosto muito do J.Cole e do Joey Badass, mas tem muita gente boa escondida no underground.

Você voltaria no tempo para reviver tudo novamente?

R: Claro! Dessa vida a gente só leva a história, os amigos, as experiências e o aprendizado. Aprendi muito com tudo isso, vi muita coisa mudar e se transformar, vários ídolos aí da molecada eu conheci quando estavam lá embaixo; vi a escalada e a dificuldade de muita gente para chegar a conseguir viver do rep. Acho que todo mundo que viveu aquela época lembra com saudade. Mas ainda tem muita lenha para queimar e rima para fazer… estamos jovem ainda, zero bala (risos).

Qual seu maior sonho?

R: Meus sonhos são simples, mano: construir uma família, conseguir viver num mundo com mais igualdade e direitos respeitados, viver num país mais honesto… Não dá para sonhar em ter milhões para ostentar carrão por aí, com o vizinho passando fome. Tem muita gente ostentando e a mãe ainda morando de aluguel no mesmo lugar. Meu sonho é ver todo mundo bem e com saúde, sem faltar nada, e comemorando com muito som no mesmo churrasco. Ah! E conhecer a Jamaica.

O que você mais indaga nessa vida?

R: Quando que esse país vai amar o brasileiro tanto quanto o Brasileiro ama seu País (como território)?

Apanhou muito quando criança?

R: Em casa, umas chineladas bem merecidas; na rua, uns cascudos dos mais cascudos porque eu era folgado e brigão, mas depois pacifiquei.

Tem alguma coisa que você quer dizer mas que eu não perguntei? Pode ficar à vontade.

R: Só dizer que eu sempre fui meio do contra, tipo eu gostar de um som, aí depois fica popular, eu deixo de gostar. Antigamente era um prazer apresentar um som bom que a pessoa não conhecia, aí rolava essa troca… Emprestava CD e pegava emprestado, não fazia sentido eu comprar o mesmo que um amigo tinha. Eu gravava e comprava um diferente. Tirava onda quem tinha o diferente, o inédito. Hoje parece que todo mundo quer o monocórdico, tipo uma fila “eu gosto todo mundo gosta” e vamos embora! Aí cai na mesmice. Acho que sempre fui meio do contra, mas sempre fui feliz assim.

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