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Em conversa exclusiva, Mahal Reis fala de literatura, Luiz Melodia, novo álbum e mais

Em meio de tantos nomes que brilharam com projetos sólidos em 2017, Mahal Reis realizou um veemente álbum intitulado ANIS. Com musicalidade do sangue, o filho do Luiz Melodia é considerado um dos maiores liricistas do rap nacional, com muita sensibilidade, cativa pessoas que sua arte. Vitor Virax, membro do Canal RapRJ realizou trocou uma ideia com o rapper; abordando diversos temas. Confira:

Vitor Virax: Como foi o processo criativo do ANIS e qual o significado do nome ?

Mahal: O processo criativo foi bastante relacionado com vivências noturnas, diria que é um projeto bem alto astral em se tratando da textura e musicalidade. Sem deixar de lado as metáforas e toda a técnica de um rap, procurei realizar sons gostosos, aqueles que podem ser tocados na casa, no carro e até em uma festa. O nome ANIS é a abreviação de Aristocracia Natural Idiossincrática Sublime, que significa elegância natural, espontânea.

Vitor Virax: Tive a impressão que o ANIS, comparado aos anteriores, veio mais vendável, até se tratando da estrutura de som, com 16 barras/refrão. Foi algo intencional ou acabou fluindo naturalmente ?

Mahal: Foi algo natural, não gosto de fazer música forçada, mas em se tratando das estruturas; realmente coloquei em padrões mais comerciais, até para ter o conceito de poder ser tocado em qualquer ambiente.

Vitor Virax: Qual influência do seu pai, Luiz Melodia, na sua concepção de vida e na sua musicalidade ? Como você lidou com a passagem do seu pai ?

Mahal: Me sinto bastante influenciado pela sensibilidade do meu pai, ele era uma pessoa bem humana, introspectiva. Ele me ensinou analisar as coisas de maneira profunda e autêntica, contemplar coisas simples do dia-a-dia. Meu pai tinha um lado místico, ele falava que era um mago, peguei muito desta ‘magia’ dele de ver o mundo de um olhar fabular. Sobre a passagem dele, me lidei até bem, ele faleceu com um samblante tranquilo; ele estava sofrendo muito aqui, creio que ele esteja em um bom lugar !

Vitor Virax: O que é ser pai para você ?

Mahal: Eu acho que ser pai é extrair o melhor de você, revolucionar internamente, continuar caminhos de rios que seguimos dos nossos antepassados. Ser pai também é uma evolução pessoal, reconstruir e aprender novas coisa todos os dias; nossos filhos nos ensinam muito. Para mim ser pai é uma dádiva !

Vitor Virax: O que você acha da atual cena do rap ? Qual rapper ou grupo você anda escutando ?

Mahal: Acho a cena atual muito fútil e superficial, não gosto de 98%. As músicas estão muito rasas e genéricas, não vejo paixão nos artistas; parece que estão apenas por fama e suas regalias. No rap nacional ando escutando Makalister, Parteum, Kamau, Akira Presidente, entre outros. No internacional estou escutando toda a galera do WuTangClan, Jeru da demaja, Boot Camp Clik, Big Juss e meu preferido; Cannibal Ox.

Vitor Virax: O que um bom beat precisa ter ?

Mahal: É algo bem pessoal, tem que me emocionar, me causar sentimentos e inspiração. Mas ao se tratar de características técnicas, gosto de um groove bonito, um sample bonito, tem que ter um swing diferenciado. Gosto de beats entre 88 e 98 BPM.

Vitor Virax: O que significa Haloxia Sinexa ?

Mahal: É um neologismo, eu inventei. Halo significa Halogênio, que são elementos químicos encontrados nas estrelas. Oxia significa os sais minerais de metal. Sinexa significa conexão psíquica, fator psíquico. Resumindo: Haloxia Sinexa significa a conexão, a sintonia e influência dos gases das estrelas com os gases dos nossos corpos.

Vitor Virax: Muitos perguntam quando vai rolar um som seu com o Makalister; você pensa em fazer algo com o artista ? Em se tratando de novos projetos para 2018, você tem algo em mente ?

Mahal: Eu amo o Makalister, ele é meu amigo. Nós vamos sim lançar música juntos, na verdade já ate gravamos uma e não saiu. Em se tratando de novos projetos, este ano lançarei meu novo álbum que se chamará Geomancia e provavelmente será duplo, neste, a sonoridade virá mais “underground”, quero experimentar muito nele, trazer muita riqueza poética e colaborar com conhecimentos; ele vai ser muito espiritual !

Vitor Virax: O que você gosta de ler ? O que está lendo ? Quais escritores você admira ? Qual livro ou leitura indicaria para as pessoas em geral ?

Mahal: Eu amo ler sobre coisas científicas, exotéricas, teorias conspiratórias. Atualmente ando pesquisando bastante sobre química e lendo sobre a cultura e mitologia nórdica, em geral me identifico bastante com a literatura européia. Da literatura brasileira eu curto Augusto dos Anjos, Cruz de Souza, Olavo Bilac, Machado de Assis, Guimarães Rosa. Indico o livro Ilusões, de Richar Bach; este livro transformou minha visão e me deu bastante espiritualidade. Também indico A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera e Lobo da Estepe, de Hermann Hesse. Em geral estes três mudaram bastante minha vida e minha percepção de mundo.

Vitor Virax: Como você encara os fonemas, como você lida e usa-os com tanta veemência ?

Mahal: Creio minha aproximação com fonemas vai mais da capacidade lúdica, de usa-las de maneira flexível; na verdade não me preocupo tanto com eles, flui naturalmente.

Vitor Virax: Comente sobre a profecia de MC’s Emergentes e conte-me se você acredita que ela está se cumprindo ?

Mahal: É um estimulo para os MC’s ampliarem seu vocabulário, sua lírica, seu criatividade e poder de persuasão, de revolução. Para ser sincero, infelizmente acho que está muito longe dela se cumprir, parece que as coisas regrediram, parece que os rappers perderam a criatividade, a lírica e tudo que eles precisam para brilharem.

Vitor Virax: Grande parcela dos novos MC’s não se preocupam com a raíz, os pilares, quem criou e abriu portas da cultura Hip-Hop; muitas vezes até desrespeitam os percursores. O que você acha desta atitude, o que você acha destas pessoas ?

Mahal: Acho que esta falta de respeito vem da tendenciosidade dos últimos tempos, de ter tudo mastigado, muito fácil e rápido. As pessoas hoje em dia estão muito superficiais, com a internet e esta rapidez de informações, as pessoas se acham expert em tudo, querem opinar em coisas que não tem o real embasamento e isto reflete no rap, começaram ontem e se acham superiores aos que abriram a grande floresta, é um sentimento fútil e desprezível.

Vitor Virax: A Professora Rose Alves, conhecida por ser uma das pessoas de maior grau de escolaridade no Hip-Hop nacional, trouxe a seguinte tese em um importante projeto acadêmico:

O rap é o um novo movimento literário verbal onde une pela primeira vez os movimentos de literatura parnasiana e modernista. Onde no parnasiano preza a beleza lírica, construção rica e o modernista preza pela simploriedade, para atingir o máximo de pessoas, o povão.”

Você sabia disso ? comente sobre. Você sente esta dificuldade e talvez até uma “aflição/angustia/agonia” ao querer fazer algo extremamente técnico e lírico para chegar no máximo de pessoas, para o povão ?

Mahal: Cara, eu não sabia, é realmente interessante. Mas no que se trata desta dualidade, eu faço um som para atingir seres humanos em geral, independente de cor, classe social ou qualquer exteriótipo. Faço um som de coração, nada é forçado, gosto de aplicar novos vocabulários, uma poesia visceral e espiritual. Eu não faço nem pretendo fazer nenhuma tática comercial, para atingir o máximo de pessoas.

Virax: Nós do Canal RapRJ agradecemos imensamente esta saudável troca de informações, vindo de uma pessoal tão rica musicalmente e espiritualmente . O espaço é seu para as considerações finais.

Mahal: Agradeço vocês meus queridos; admiro muito o trabalho profissional, integral e preocupado com o fortalecimento da cultura Hip-Hop. Gostaria de mandar um grande abraço para todos de Floripa; a Ladal, o Makalister, meus amigos em geral. Eu desejo para o rap nacional: criatividade, originalidade, elegância, classe, refinamento, lírica e muita musicalidade. Amo todos vocês e até o outono lançarei meu novo álbum chamado Geomancia, beijos e abraços, fiquem com Deus !

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