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MD Chefe vem sendo influente com “Atg Tape” como 21 Savage foi com “Savage Mode”

MD Chefe com certeza foi um dos destaques de 2021, emplacando milhões de visualizações em clipes de músicas como “Rei Lacoste” e “Tifanny“, assim como números imensos também nas plataformas de streaming, principalmente o Spotify.

MD começou nas batalhas de rimas e está na cena há um bom tempo, no início assinava seu nome artístico como Madruguinha, já cativava as pessoas mas o que realmente o estabeleceu na cena foi a sua ímpar estética de músicas propriamente ditas, estas que foram lapidadas com o tempo, é facilmente perceptível ao compararmos as primeiras músicas com as mais novas. Algo a se destacar foi que MD fez o primeiro barulho ao lado da banca NGC, que tinha nomes como o Daddy, Borges e Flacko.

Se formos destrinchar sua estética musical, podemos colocar alguns pontos chaves como o seu flow “sussurrado”, com a presença de muito deboche e ad-libs criativos (algo extremamente raro no trap, visto que a grande maioria é copia da copia). Claro que estética não se resume ao flow, métrica ou delivery vocal, é muito mais que isso; suas letras em geral abordam de uma maneira muito criativa seu amor pela moda, whisky e muitas coisas que até então são estigmatizadas como gosto de pessoas de origem rica, mostrando que favelados também podem usufruir das mesmas, sem vergonha.

O videoclipe de “Rei Lacoste” mostra muito bem isso, colocando o artista em jogando tênis, esporte que no Brasil há muito tempo é considerado um esporte de playboy, com roupas da linha esporte fino da marca Lacoste, esta que também até há pouco tempo era uma das marcas preferidas pelos burgueses, apesar de pontuais artistas de origem humilde usá-las e destacá-las em músicas.

Rei Lacoste” foi o primeiro grande hit de “MD Chefe“, atingindo um número explosivo rapidamente e o projetando para todo o Brasil, fazendo que muitas pessoas que até então não conheciam o seu trabalho pudessem conhecer. Junto com MD, seu fiel escudeiro DomLaike também aproveitou a ótima maré e cativou todo o Brasil com seu talento e estética única, quebrando tudo como participação. O videoclipe atualmente conta com a marca de nada menos que 60 milhões de visualizações e no Spotify mais de 40 milhões de plays.

Pouco tempo após “Rei Lacoste” viralizar, a marca realizou uma propaganda a qual colocou apenas modelos brancos e aparentemente sem origem humilde. Não entrando no mérito se é certo ou errado, rapidamente foi alvo de cancelamento e anexo a ela, questionamentos porquê MD chefe não havia sido convidado, dando-lhe o título de ser o grande embaixador da marca no Brasil e merecia aparecer. Percebendo o erro, logo MD foi convidado para uma nova propaganda a qual buscaram se redimir e totalmente diferente da anterior, é muito mais suscetível de conversar com a grande população brasileira.

Arte é algo único e gostando ou não, deve ser respeitada. Não é saudável compararmos artistas, cada um possui sua forma de se expressar e tem seu devido valor. Com todo cuidado e respeito, hoje faremos uma interessante comparação entre a arte de MD Chefe e o rapper norte-americano 21 Savage, assim como a semelhança no quanto influenciaram as duas cenas de rap.

MD e 21 tem muito em comum, tanto em sua arte, como na sua forma de posicionar na cena. Ao visualizarmos a repercussão em 2021 do MD com o álbum “Atg Tape e consecutivamente a com sua estética que vem influenciando não só o comportamento de milhões de ouvintes mas como de outros rappers e até músicos de outros estilos, podemos comparar com o barulho estrondoso que Savage fez em 2016 com seu álbum “Savage Mode“, realizada em colaboração com o produtor Metro Boomin, que também veio a se tornar um dos mais influentes lá.

Mas você deve estar se perguntando, o que eles tem em comum? Vamos analisar!?

Voz: Como já mencionado, MD Chefe apostou numa estética de voz sussurrada, como se estivesse cochichando no ouvido do ouvinte, com um flow lento e bem pontuado e de interessante uso dos ad-libs, swingando de maneira interessante nos beats dos belos produtores que trabalha. 21 Savage também segue uma linha vocal semelhante, notamos um delivery de voz caricato em que parece estar falando enquanto estivesse tendo um sonho, ou melhor dizendo um pesadelo, ao analisarmos o teor das suas letras. Seu flow também é bem lento e pontuado, deixando espaço para o “beat falar”, entrando e saindo nas horas certas, algo bem difícil de fazer de maneira voluntária e consciente.

No Heart” foi primeiro hit do álbum do 21 e expressa muito bem tal estética. Reparem na forma que ele coloca a voz, assim como as pausas que dão um ar bastante swingado no belíssimo instrumental com ar “hipnótico”, que esteve em alta em 2016.

Letras: Apesar das temáticas e letras e construção das rimas não serem parecidas, cada artista apostou em elementos centrais que viraram a marca de suas músicas, se posicionando liricamente. Enquanto MD fala sobre o favelado chique, degustador de bons wiskys, grifes e afins, o rapper de Atlanta aborda sobre a violência em sua cidade, sua vida no crime e seu relacionamento com as drogas, fazendo até músicas de metáforas entre a droga e uma mulher. Falando sobre mulher, é interessante destacarmos que MD Chefe vem sendo extremamente cuidadoso ao se falar sobre mulheres, tratando-as com respeito e não objetificando, diferente da maioria dos nomes do trap, no Brasil ou mundo afora.

Tiffany“, outro hit do MD, é um ótimo exemplo de como se fazer um trap exaltando as mulheres e o estilo das mesmas com muito respeito, sem parecer meloso. O clipe já passou a marca de 61 milhões de visualizações; Bruno D’Chef dirigiu.


Estilo: MD Chefe não se resume a moda dentro da música, ao acompanharmos o rapper carioca nos stories e em vídeos em geral, vemos que é genuíno o seu amor pela moda e seu jeito ímpar de se comunicar, ele fala de uma maneira muito elegante e sempre parece estar confortável. Já 21 Savage, apesar de não se preocupar tanto com as vestimentas (não que ande feio), traz sua estética sombria e sanguinária dentro e fora dos clipes, ao vermos entrevistas, notamos sua fala mansa e fria, como se não houvesse mais nenhum sentimento dentro de seu coração.

Veja este corte do podcast Podpah em que MD Chefe comenta sobre a sua forma de se expressar com vestimentas e seu amor pela Lacoste:

Humor: O humor é uma das formas mais eficazes de cativar as pessoas, principalmente aquelas que não estão familiarizadas com você e/ou seu universo, no caso o rap e o Hip Hop. Os dois artistas são caricatos, enquanto MD soa muito mais feliz e bem humorado e 21 soa frio e triste, ambos são alvos de sátiras e memes que deixam a internet em gargalhadas. Podemos ver por exemplo a quantidade de humoristas e simpatizantes que imitar a forma de MD Chefe falar e portar, com as que imitam o 21 Savage, enfatizando os trejeitos.

O humorista Michel Elias ganhou bastante repercussão com sua série sátiras do MD:

Este vídeo bombou na época mostrando como o engenheiro de som gravava o 21 Savage, no caso, dormindo:

Momento: Em 2016 tivemos muitos lançamentos e álbuns de peso e ao analisarmos o ano, tivemos álbuns de nomes de nomes como Kanye West, Young Thug, J Cole, Drake e Travis Scott; todos estes artistas tendem a colocar a energia lá em cima, de maneira animada. Não podemos esquecer que todos os artista americanos ainda estavam assustados com o álbum “To Pimp a Butterfly” do Kendrick Lamar, lançado em 2015, sendo uma verdadeira aula de como fazer rap consciente e técnico, sendo considerado por muitos críticos o melhor álbum de rap da década. Todo mundo em 2016 queria mostrar que também era criativo, técnico e até lírico, 21 aproveitou a deixa e fez um álbum com uma sonoridade monótona e genial, colocando o ouvinte em uma onda lenta e extremamente sombria.

Voltando para o Brasil, em 2021 o trap estava se consolidando e enquanto alguns artistas optaram por caminhar por diversas estéticas e subgêneros do rap, outros já tinham encontrado suas estéticas que podemos dividir de maneira rasa pelos que faziam trap pop (leia-se comercial), trap de cria (abordando crimes e realidades tristes), e o consciente (sendo trap ou boombap); não havia artistas emergindo cantando sobre moda, e tudo que já falamos sobre o mundo do MD Chefe, o jovem de Turano foi extremamente inteligente ao se posicionar em uma lacuna que estava sem concorrência e fez muito bem feito.

Quer voar” do Matuê é um ótimo exemplo de um trap de forte viés comercial, o que mais bombou no Brasil em 2021, soando totalmente diferente com a proposta do MD Chefe.

Para finalizarmos, mais uma vez frisamos que cada artista, famoso ou não, tem seu valor e a arte é algo único e deve ter muito cuidado ao ser comparada. MD Chefe e 21 Savage são artistas geniais, ao meu ver com muita coisa em comum, mas ainda sim fruto de duas realidades totalmente diferentes, estas que inevitavelmente influência a forma de ver o mundo e consecutivamente se expressar. Para os leitores que estão na música buscando o reconhecimento, saiba que não há fórmula para o sucesso mas assim como em outras áreas, é inteligente analisar o mercado e encontrar nichos que estão sem ou com pouca concorrência, fazendo um trabalho de qualidade ali, fica bem mais fácil de prosperar.

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